...À meia-noite, à meia luz, uma xícara de café quase vazia e um cinzeiro cheio de cinzas. No rádio, em uma estação qualquer, tocava um blues antigo que dizia: “...Fell down on my knees. Save me if you please...”. Deitado no chão, eu olhava para o teto e eis que vi seu rosto. Seu olhar, tão lindo, gritava: - Sou eu! Mas ao se fixar com meu intimidava-se e fugia. Seus cabelos tão escuros como aquela noite fria, curtos como a vida. E eu me perguntava: Quem é você? Por que você está na minha cabeça? Quem é a dona desse blues? Por que você não sai da minha cabeça?
Eu precisava dormir e acordar cedo na manhã seguinte, mas seu sorriso tão sincero não me deixava. Fechava os olhos, mas ela também estava ali, dentro de mim. Quem é a dona desse sorriso? Quem é você que eu não esqueço?!

Onde será que nossas vidas se encontram? Talvez não se encontrem, talvez ela não exista. Eu deveria acreditar em destino? – Não, melhor não. – Mas se ela existir, se nossas vidas se cruzarem, talvez algum dia eu leia isso tudo segurando sua mão. Talvez eu diga: É você! Por você que eu esperei uma vida inteira. É Você a dona do meu blues, a dona do meu coração! Ou talvez eu nunca diga.
Quando bateu o último segundo daquela hora já era sexta-feira, e a luz do sol que já entrava pela janela me acordou. Foi um sonho, e ela se foi sem me dizer seu nome. Ela se foi sem dizer: Adeus!...